Assertividade
O Não custava-lhe. Era assim como uma unha encravada, um arrancar de dentes sem anestesia, um copo de fel. Quando parecia querer subir-lhe aos lábios logo todos os anticorpos se mobilizavam para fazer crescer aquele nó na garganta, provocar aquela secura de boca que o remetia de novo ao canto escuro de onde nunca conseguia sair.
O Sim, por sua vez, era uma puta doida que lhe saía boca fora por dá cá aquela palha. Tornava a vida fácil aos outros e a dela num beco sem saída, num inferno em vida, esgotando-a de tanto se oferecer.
E foi assim, esgotada e já sem crédito de si mesma que um belo dia decidiu que assertividade não seria mais palavra vã e que do Não faria a sua bandeira. E tão orgulhosa ia da sua recém-descoberta coragem que só se apercebeu do assalto já a arma estava para ela apontada. E quando lhe exigiram a carteira, abriu bem os olhos e disse, pela primeira vez, "Não!".
Segundos depois caía no chão, os olhos arregalados, espantados ainda com o impacto da nova palavra. Da boca saía-lhe agora o Sim aos borbotões, expulso para sempre do seu vocabulário e da sua vida. Esboçou um leve sorriso de alívio e fechou os olhos.
7 comentários:
este texto está fantástico e espanta-me que não tenha nenhum comentário.
este texto está fantástico e pelo menos a mim merece-me este segundo comentário.
este texto tá fantástico. Porque raio é que mais ninguém o diz?
Ou pensam que a criatividade cai do céu, sem qualquer tipo de incentivos?
Agrada-me especialmente o trecho em que o Sim (o sangue) o Sangue, Sim lhe sai aos borbotões e ela perde o Sim, o Sangue e a Vida. Mas tá tudo estúpido ou quê?!!! Daahh!...
Ok. Este sexto comentário deixa-me agora mais calmo. E este texto parece-me francamente muito bom. Não acham? (Perdoa-lhes meu amor, porque não sabem o que fazem...)
Antonymous
(speachless, drooling, drooling, drooling......)
Lambeijo, meu gato.
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