29 novembro 2005

27 novembro 2005

O intruso

Deitada no escuro, adivinhou-lhe a presença momentos antes do ataque.
Deixou-se ficar quieta, mal respirando, podia ser que nem a notasse. Precaução inútil: no momento seguinte sentiu-o em cima de si a chupá-la, esfomeado.
Disparou um palavrão e lançou a mão ao candeeiro: ali estava um meia-leca, de cabeça enterrada nela, a comê-la como se o mundo acabasse amanhã.
- Mas que merda é esta? Já não se pode deixar a janela aberta que qualquer um entra assim como se fosse a sua casa?
Nada
- Ouve lá, não me digas que és um dos estupores que andam a atacar em Santa Luzia?
Levantou a cabecinha para ela.
- Eu?!... Não! Não me misturo com degenerados.
- Pois degenerado ou não, a mim só me chupa quem eu quero!
Largou-lhe uma bofetada em cheio. Gotinhas de sangue salpicaram-lhe a perna. Empurrou-o para o chão, limpou o sangue e deitou-se ainda irritada.
- Era o que me faltava a esta hora, mosquitos!

25 novembro 2005

Estou aqui mas não estou

Tu sabes que something is very wrong quando te levantas da sanita,
pegas no Harpic Gel Activo para lavar as mãos
e passas o dia a pensar donde virá aquele cheiro a pinho.

20 novembro 2005

Os anjinhos

Diálogo de ontem, pelas 23h30, no regresso a casa depois de vista a "Fábrica do Nada". Enganámo-nos e fomos parar à estrada velha percorrendo os lombos todos desde a Calheta com os putos cheios de sede e sono lá atrás, quando de repente...
8 Anos: - Pai, fónix é uma palavra feia?
42 Anos: - Não, não é...
8 Anos: - Então pode-se dizer?
39 Anos: - Fónix substitui uma palavra mesmo feia, só isso.
8 Anos, voltando à carga: - Então...
42 Anos que não suportam meias verdades: - Fónix é o substituto de foda-se, mas não quero que digas uma nem outra, entendido?
Gargalhadinhas lá atrás, dúvidas dissipadas, tudo está bem quando acaba bem. Tudo, até aquela curva mais apertada que arranca à mãe um sonoro "Dasse!"
E logo lá atrás a vozinha gozona:
- E essa? Também é um substituto?!

16 novembro 2005

Gotas

(daqui)

Gosto de palavras que gotejam.
Frescas e inesperadas,
assim as sorvo.

11 novembro 2005

"Quando for grande, quero ser..."


indecentemente fanado a Os (In)separáveis

Eu já sabia disto.
Agora pega lá para não duvidares de mim!
Lambeijos.

08 novembro 2005

21 de Novembro: "Viewfinder"

"Can't wait, can't wait
to see you after sunday
because your smile is shining
like a razorblade"

(Ben Christophers, "Sunday")

06 novembro 2005

A Pesca

Caçar é actividade que nunca me agradou.
Considerando a herança familiar, deveria ficar arrepiada ao cheiro da pólvora e saber de cor o nome das armas e parafernália em geral. Só que é muito barulho assim ao nível dos ouvidos, coices nos ombros que deixam os braços e arredores KO durante dias, sangue, pelos e penas por todo o lado. Definitivamente, não!
Agora a pesca… Embora não pratique, sempre me atraiu. Desde petiza que saltitava pelos rochedos de Paço d’Arcos armada de fio de nylon com um clip na ponta. A isca começou por ser bolas de pão mas desfaziam-se num instante. Voltei-me então para o berbigão e aí sim, os caranguejos começaram a morder.
Não era o acto de apanhar a presa que me atraía, mas sim a espera, a incerteza, o jogo do rato e do gato.

Há anos que não pesco nada. Mas o fascínio pela pesca mantém-se.
(foto via email, graciosa oferta do homem da casa)

03 novembro 2005

42

(daqui)

VALSINHA
Vinícius – Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanto felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Parabéns, meu amor.

(Banda Sonora: Marilyn Monroe - "Happy Birthday, Mr. President")

02 novembro 2005

Porto Santo

Foram 4 dias gloriosos no Porto Santo.
Um sol maravilhoso embora por vezes envergonhado, os passeios matinais na praia deserta após o pequeno-almoço, a recolha de búzios e conchas, a areia quase virgem de pegadas de gente, apenas de gaivotas e dos passarocos habituais de beira-mar, o mar, aquele mar que não tem explicação, só estando lá dentro mesmo...






E no regresso, um presente inesperado: ao fim de 16 anos a fazer este trajecto vi golfinhos pela primeira vez. Apareceram do lado esquerdo do rasto de espuma, pouco depois de passarmos o Ilhéu da Cal e de ter tirado esta foto. Eram 3 ou 4, aos saltos. Foi uma surpresa tão grande e tão boa que nem tentei tirar foto. Bastou assim, só olhar para eles.