10 junho 2007

Nos dias bons chegava à beira, fincava os dedos dos pés até arranhar o lodo e mergulhava. Nesses dias podia com o mundo inteiro na palma da mão e levava-o com ela até ao fundo. Chegada aí, largava-o, batia com os pés na areia e cortava veloz até à superfície onde ficava a arquejar à procura de ar e mais ar para encher os pulmões. Depois estirava-se na água e ficava assim, ora de pernas encolhidas, ora a adejar os braços, ora a andar de bicicleta de lado obrigando o corpo a rodar sobre si próprio. E nunca se afundava, boiava sempre, daquela maneira estranha e desinquieta. Até a pele engelhar e as unhas ficarem roxas.
Nos dias maus chegava à beira, fincava os dedos dos pés até arranhar o lodo e ficava.
Nesses dias o mundo inteiro era-lhe pesado e tinha a certeza de que se mergulhasse nunca mais conseguiria voltar à superfície.
Então descia e deixava-se ficar na beirinha. Apanhava conchas e pequenos búzios que o mar descartara da sua colecção enquanto aguardava que o mundo ficasse mais leve. Só então o equilibrava na palma da mão e corriam os dois mar adentro.

7 comentários:

Maria disse...

Recordações de quem?


...

Uxka disse...

Minhas.
Sweet dreams :)

Joana disse...

:) tenho andado afanada de tempo. gosto muito da casa nova. e gostei muito deste texto e de rever o mar da minha madeira. beijinhos *

Joana disse...

bom, não é bem "casa nova" mas sim "redecorada". :*

Uxka disse...

Ah Barreirinha! O meu mais velho levou seu primeiro "banho" aí, tinha 3/4 meses. Virou pato, como a mãe :)
Gostaste da pintura das paredes? ...e das sanefas? Também acho que ficou 'nito ;)

Anónimo disse...

Cuidado com o lodo. Há lodo no cais. Escorrega-se ao mergulhar. E com o mundo inteiro na mão é muito mais difícil. :) Hoje é véspera de Santo António. Tás fodida. XXX.
Antónymous.

Uxka disse...

Caríssimo (com sotaque...), nem eu esperava outra coisa!
Lambeijos